Deméter (Ceres em latim) - A mais antiga e também a mais venerada deusa em toda a Grécia, seu culto estava estritamente vinculado ao ciclo da terra, sendo, portanto, fundamentalmente baseado em rituais agrários. Filha de Crono e Réia, assentava-se entre as doze divindades do Olimpo. Constantemente assediada por Posídon que a desejava, disfarçou-se em égua a fim de iludir seu pretendente. Foi inútil tentativa, pois Posídon, descobrindo tudo, disfarçou-se em cavalo logrando assim seu intento de unir-se a Deméter. Dessa indesejável união nasceu Aríon, cavalo com a capacidade da fala e da predição do futuro e uma filha cujo nome poucos conheceram. Indignada com a atitude de Posídon, Deméter retirou-se do Olimpo. A terra tornou-se a partir daí estéril e estabeleceu-se um período de fome absoluta. Por causa desse incidente recebeu muitos cognomes, entre eles a de “Negra” por haver se vestido de luto e de “Erínia” por causa da ira que se abateu sobre ela. Foi somente após banhar-se no rio Ládon, cuja característica era a de fazer apagar mágoas e ressentimentos, que Deméter, purificada, voltou ao Olimpo.
De seu romance de trágico desfecho com Iásion, Deméter teve um filho chamado Pluto, que posteriormente tornou-se a personificação da riqueza e da abundância. Iásion morreu atingido por um raio fulminante enviado pelo enciumado Zeus ao surpreender juntos os dois amantes. De sua união com Zeus nasceu Core, que estando certo dia a colher flores no campo foi subitamente raptada por Hades e levada às profundezas. Amargurada com o desaparecimento da filha, Deméter vagou pelo mundo inteiro à sua procura. Hélio, o deus Sol que a tudo vê foi quem lhe revelou seu paradeiro. Revoltada com Hades e também com Zeus que permitira o seqüestro, retirou-se do Olimpo e metamorfoseada em velha, dirigiu-se a Elêusis, cidade da Ática.
Lá chegando, interpelada pelas filhas do rei Céleo a respeito de sua identidade, mentiu dizendo ser Doso, vítima de piratas que a haviam seqüestrado de Creta, cidade onde residia. Convidada a cuidar do recém nascido Demofonte, filho de Metanira, a esposa do rei, aceitou a incumbência. J Deméter decidiu tornar o rebento imortal e para tanto, alimentava-o com ambrosia e com o néctar dos deuses, esfregando-o todas as noites com o fogo da imortalidade. Aconteceu, porém, que certa feita Deméter foi surpreendida pela rainha em seus rituais mágicos. Esta, ao se deparar com a imagem de seu filho exposto às chamas, lançou um grito desesperado. Irada com tamanha ignorância e incompreensão, a deusa interrompeu o ritual, condenando Demofonte a prosseguir como simples mortal e surgiu em todo seu esplendor denunciando sua verdadeira origem.
Ordenou que se erguesse um templo em sua homenagem no qual ela pudesse ensinar aos homens seus ritos secretos. Uma vez construído seu santuário, retirou-se do Olimpo e ali se refugiou para chorar a saudade que sentia de sua amada filha. Amaldiçoou a terra lançando sobre ela uma implacável seca e impedindo que ali nascesse qualquer tipo de vegetação. Inutilmente, tentando convencê-la a mudar de atitude, Zeus se viu forçado a interceder junto a Hades para que devolvesse Coré a sua mãe. O soberano dos infernos consentiu mas, antes de deixar partir sua amada, fez com que ela comesse um bago de romã. Prendeu-a com isso, para sempre, aos Infernos, uma vez que, quem ali se alimentasse, ficaria eternamente condenado a retornar. Quando mãe e filha se reencontraram, a terra novamente se cobriu de verde e a abundância voltou a reinar.
A narrativa do rapto e do subseqüente encontro de Coré com sua mãe são a base fundamental para a instituição dos Mistérios de Elêusis, pois foi somente após esse reencontro que Deméter transmitiu seus ritos secretos. Calcula-se que os Mistérios foram inaugurados no século XV a.C. e perduraram por dois mil anos. Tinham um caráter extremamente democrático, pois qualquer um, governante, escrava, dona de casa ou prostituta podia tornar-se um Iniciado, desde que soubesse falar grego. Tal condição se fazia necessária pela necessidade de se repetir , durante a liturgia, fórmulas e palavras. Além disso, sua prática não interferia nos afazeres cotidianos ou em qualquer tipo de atividade pois os Mistérios não se constituíam em seita ou associação secreta. O pouco que se sabe a respeito dos Mistérios de Elêusis é que os Iniciados só se distinguiam dos demais após a morte quando então se constituíam um grupo a parte. Os Mistérios não prometiam a imortalidade, mas a bem-aventurança após o término da vida terrena.
Etimologicamente mistério significa “coisa secreta”, “ação de calar a boca” e o pouco que se sabe a respeito dos Mistérios de Elêusis se refere à sua estrutura. Eram subdivididos em etapas as quais correspondiam a diversos graus. Dividiam-se em Pequenos Mistérios, que se realizavam anualmente em Agra, subúrbio de Atenas, Grandes Mistérios, as teletaí, onde, para ser admitido bastava ter cumprido os ritos iniciais e, por fim,a epopteía, permitida àquele que já se havia iniciado há um ano.
Instituídos seus Mistérios, Deméter ainda entregou a Triptólemo, o outro filho do rei Céleo, os ensinamentos sobre a arte de semear e colher o trigo bem como os segredos do preparo e do armazenamento do pão e o incumbiu de difundir ao mundo o que havia aprendido. Somente então, a deusa voltou a conviver juntamente com sua filha com os deuses no Olimpo.
Inúmeras festas eram celebradas em sua homenagem e todas elas realizadas de acordo com as estações do ano, uma vez que estavam intimamente ligadas ao plantio, colheita do trigo e ao trabalho decorrente disso. Dentre as mais importantes festas destacam-se as Tesmofórias, onde se expressava gratidão à deusa pelas últimas colheitas, as Clóias, que se realizavam quando o verde do trigo e da cevada cobriam o campo, as Talísias, realizadas no início das colheitas e Haloas, festa dedicada também a Dionísio .
Era invocada como deusa da terra cultivada, da colheita e da semeadura, diferenciando-se portanto de Gaia , a Terra, a Grande Mãe. O culto a Deméter possuía um caráter basicamente agrário, já que ela era responsável por todos os fenômenos e procedimentos ligados direta ou indiretamente à cultura da terra.
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